domingo, 11 de abril de 2010

E o Sertão virou um mar de obras


Juntos, a transposição e Transnordestina representam investimentos de quase R$ 10 bilhões em obras. Fotos: Helder Tavares/DP/D.A Press

Dia quente, por volta da uma da tarde, numa estrada do Sertão de Pernambuco. Três homens se escondem do sol, na sombra de uma parede do que deve ter sido uma casa. Jovens, seus rostos estão longe da imagem historicamente associada ao Sertão: seca, cansaço, olhar de quem procura a esperança. Fardados com macacões amarelos, aguardam o transporte que os levará para um dos canteiros de obras do projeto de Integração de Bacias do Rio São Francisco, mais conhecido como transposição.

"Aqui, uma casa custava R$ 200 o aluguel, agora está por R$ 400"
Wagner Moura, secretário de Administração de Custódia


"Aqui todo mundo está trabalhando. Antes era só na roça; agora é diferente", diz Valmir Dias, de 28 anos. Carpinteiro, Valmir costumava passar temporadas em São Paulo, onde trabalhava na construção civil. Há um ano e meio tem emprego perto de casa, num dos trechos de construção do Eixo Leste, no município de Custódia.

O ex-borracheiro Alex Batista dos Santos, de 21 anos, diz que o trabalho na construção civil é mais leve. Flávio Rodrigues, de 22 anos, ajudante de terraplenagem na obra da transposição, está perto de ganhar direito a férias. "A roça dá o dinheiro para sobreviver. Aqui o trabalho é mais maneiro (leve)", avalia o ex-agricultor, que estudou até o 7º ano do ensino fundamental. Flávio e Alex têm a carteira assinada pela primeira vez na vida.


Ela garantem empregos a Valmir Batista, Alex Batista e Flávio Rodrigues.

Além da transposição, a construção da ferrovia Transnordestina é outro grande projeto que está ajudando a movimentar a economia da região. Juntos, os dois representam investimentos de quase R$ 10 bilhões em obras para o Nordeste. Apenas no Projeto de Integração de Bacias do São Francisco, a expectativa é de geração de 12 mil empregos diretos, durante o pico da obra.

A movimentação de pessoas e dinheiro na região tem ocasionado situações impensadas em outros tempos: filas nos caixas dos supermercados, procura por uma mesa vazia nos restaurantes, hotéis lotados, trânsito agitado. O mercado imobiliário foi um dos que mais lucraram com estas mudanças. "Como está vindo muita gente de fora, as pessoas da cidade estão reformando a própria casa ou construindo outras só para alugar. Aqui, uma casa custava R$ 200 o aluguel, agora está por R$ 400. Algumas chegam a R$ 2 mil. Por conta disso, abriram mais quatro lojas de material de construção na cidade", relata o secretário de Administração de Custódia, Wagner Moura.

Desemprego é uma palavra pouco pronunciada nas cidades envolvidas nos projetos. "Hoje, esse problema quase não existe aqui. Dentro da cidade, quem tem uma profissão está trabalhando. As empresas chegam a disputar os profissionais", atesta a secretária de Planejamento de Salgueiro, Ana Neide de Barros.

Em Floresta, pedreiros trocaram os famosos "bicos" por trabalho garantido nas construtoras responsáveis pelas obras dos canais da transposição. O empresário Teotônio da Silva Neto sentiu no bolso a escassez de profissionais. Dono de uma pequena empreiteira, ele corre contra o tempo para preencher 20 vagas de pedreiro abertas para tocar a construção de 50 casas num assentamento rural. "Estou tendoque buscar esse pessoal em Alagoas, porque aqui em Floresta não tem mais. Além disso, um serviço que antes era feito por R$ 1,8 mil agora sai por R$ 2,5 mil. Tive que aumentar o salário para segurar o empregado", conta.

A relação entre oferta e procura de mão de obra e o acesso a direitos constitucionais, como aposentadoria rural e seguridade social, têm colocado o trabalhador num patamar diferente do que tem sido reservado ao sertanejo ao longo do tempo. Mesmo sem o nível técnico e de escolaridade dos operários das grandes cidades, estas pessoas têm conseguido maior grau de autonomia em relação às suas trajetórias. "O concreto é que antes o trabalhador estava muito &aspassna mão&aspass do patrão. Ele ainda não está livre totalmente, mas essa dependência diminuiu", avalia o professor João Policarpo Lima, PHD em economia e chefe do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco.

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